Sai para dar uma volta, outro dia, e notei uma coisa. Fazia um tempo glorioso – Melhor impossível, e com toda probabilidade o último a se ver por estas bandas durante muitos meses gelados -, no entanto quase todos os carros que passavam estavam com os vidros fechados.
(parcial: BRYSON, Bill. Crônicas de um país grande).
Perplexa, continuo andando pela longa avenida, pesando no grande desperdício que tinha sido o lindo dia ensolarado. Na próxima esquina, olho para a vitrine e vejo o que estava procurando, um lindo par de sapatos de salto. Entro na loja para provar. Enquanto estou esperando a atendente aparecer com o par de sapatos do meu tamanho- algo difícil de acontecer, pois o meu numero é o primeiro que acaba- escuto duas mulheres conversando no balcão.
Discretamente levanto e vou para mais perto do balcão, onde posso escutar a conversa melhor, e finjo que estrou olhando um lindo par de saltos cor-de-rosa com brilhos e lantejoulas –o sapato dos maus pesadelos- e vejo que as moças estão falando de uma onda de assaltos a mão armada na avenida. Tentei chegar mais perto, mas felizmente a atendente aparece o meu sapato, e sou obrigada a me retirar de meu posto expiatório para provar o sapato. Saio da loja satisfeita com o sapato, mais angustiada para saber do resto da conversa que as mulheres estavam tendo, mas me contendo apenas com o sapato.
Chego em casa e vou direto para o computador, para ver se encontro algo sobre essa onda de assaltos nas avenida, e o que encontrei foi uma matéria falando de dois assaltos a mão armada me uma avenida no Líbano. “Nossa, grande onda de assaltos”, pensei, será que era por isso que as pessoas estavam todas com os vidros fechados hoje?
Vou ver um pouco de tv, e quando coloco no jornal e lá estava, uma enorme matéria falando do quão perigoso é andar com as janelas do carro abertas nessa nova onda de assaltos. Fico impressionada com o sensacionalismo que a mídia criou, isolando as pessoas nos seus carros e casas cada vez mais, para cada vez mais poderem aliena-las.
No dia seguinte vou de carro até um restaurante que ficava do outro lado da cidade, e como não estava um dia tão feio, decidi quebrar com paradigma e abrir o vidro do carro. De início não foi lá grande coisa, mas quando parei no semáforo, ai sim virou notícia de jornal:
“Hoje, uma mulher de aproximada mente 35 anos de idade foi vitima de um assalto a mão armada na avenida mais movimentada da cidade, infelizmente a mulher resistiu ao assalto e acabou sendo baleada. Ela se encontra no hospital, em coma, mas não corre risco de vida”.
Irônico, não?
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