quarta-feira, 23 de março de 2011

O último suspiro


Estava tudo escuro naquele bosque.
As arvores, sem ao menos uma única folha, davam um ar sombrio e a chuva caia pesarosamente.
Ele estava ajoelhado, com os cabelos sobre o rosto. Possuía longas asas negras, que se desfaziam pouco a pouco, deixando longas penas pretas flutuando com a brisa gelada.
Sua calça estava rasgada na altura dos joelhos, talvez proveniente da queda. Ele fizera de tudo para que ela não se machucasse, mas parece que fora tudo em vão.
Ela jazia em seus braços, fria como o gelo, e branca como a neve. Seus cabelos petos se fundiam com a escuridão, seus olhos, com suas pálpebras fechadas, escondiam o mais lindo e estonteante azul.
Ele estava em prantos, suas lágrimas contornavam seu rosto, antes de cair na pele pálida da menina. Sua expressão estampava uma profunda tristeza e uma vontade desesperada de tê-la de volta a vida, de ter seu corpo aquecido novamente, sentir suas mãos afagando seus cabelos e seus calorosos beijos.
A cada segundo que se passava, ele se sentia mais arrependido, com uma raiva incontrolável crescendo dentro dele, uma raiva por estar vivo, e ela não, e mais as lágrimas caiam desenfreadamente.
Ele a apertava contra o peito, em um caloroso abraço, mas que não tinha resposta. Ele afrouxou um pouco o abraço, mas apenas o suficiente para conseguir vê-la, ver seu rosto mais uma vez.
Ele aproximava cada vez mais seus rostos, deixando a distancia de seus lábios extremamente pequeno, quase se tocando.
Ele não resistiu e a beijou, e, em um lapso de tempo, ele sentiu uma mão afagando seus cabelos, e os lábios que a pouco estavam frios e pálidos, retornavam a ter uma cor avermelhada, esbanjando calor.
No instante que seus lábios se desvencilharam, uma única e última lágrima escore de seu rosto e cai nos lábios dela, e nesse exato momento, no exato momento em que a lágrima atinge seus lábios, se escuta um suspiro, um último suspiro, e a bela moça de desfaz em lindas e deslumbrantes penas, que pouco a pouco se dispersão com a suave brisa, deixando-o ajoelhado com o último resquício dela, a mais bonita e única pena branca em suas mãos.
E ao longe se podia escutar o grasnar dos corvos e o som de suas asas batendo, acompanhando as penas que flutuavam no ar.

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